Série de relatos está sendo chamada de ‘seita da Cacau Show’ e chegou ao Ministério Público do Trabalho (MPT)

Nas últimas semanas, a Cacau Show vem enfrentando uma série de denúncias feitas por ex-funcionários e franqueados. Os relatos vão de assédio moral a práticas com objetivo religioso, e fizeram com que o caso fosse apelidado de ‘seita da Cacau Show’.

As acusações vieram a público na última quinta-feira (29), em reportagem do portal Metrópoles e relatam conferências com velas, em que os participantes - vestidos de branco e descalços, acompanhavam cantos apresentados pelo CEO da companhia, Alê Costa.

Nas redes sociais, ex-franqueados também relataram dificuldades na operação das lojas, como falta de acesso a crédito, restrições na entrega de produtos, multas abusivas e pressão psicológica. No Instagram, a página ‘A Doce Amargura’ reúne alguns desses depoimentos.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) de São Paulo confirmou que há um inquérito aberto para apurar as denúncias, mas que não há nenhum processo judicial em andamento, pelo menos até o momento.

Um comunicado oficial foi publicado pela Cacau Show nesta terça-feira (3) através da página da empresa no Instagram em colaboração com o perfil do CEO. A nota afirma que as publicações são 'inverídicas' e que os relatos representam ataques à história da marca e às pessoas que a constroem com integridade e amor.

A companhia também defende que a oração do 'Pai Nosso', quando realizada, é voluntária e respeitando a liberdade de opinião, além de explicar que o 'ritual do cacau' na verdade é uma experiência sensorial com licor de cacau não alcoólico, inclusive oferecido nos hotéis.

“É indignante e entristecedor a perturbação de alguns momentos simbólicos que são tão especiais para a nossa cultura”, diz o texto publicado.

Para a professora Bianca Dramali, do curso de Administração da ESPM, os franqueados podem, e devem, recorrer aos meios legais, caso se sintam lesionados. No entanto, ela ressalta que, antes disso, o diálogo deve ser o caminho inicial.

“Os franqueados são stakeholders essenciais, mas muitas vezes são tratados como se a marca estivessem apenas fazendo um favor ao direito de uso da identidade, da estrutura e da expertise. A relação entre franqueador e franqueado deve ser pautada por co-dependência e cocriação de valor”, afirma.

Segundo a professora, as práticas de engajamento precisam ser homologadas à cultura organizacional e nunca serem impostas.

“Nada que é obrigatório, de fato, envolve. E nada que é imposto realmente motiva. A ação só faz sentido se estiver conectada ao contexto, ao objetivo do treinamento ou da iniciativa de engajamento, e principalmente à cultura da empresa. E essa cultura precisa estar bem definida, transparente e acordada previamente com os colaboradores.”

Leia a nota da empresa na íntegra:

"Nos últimos dias, fomos aprimorados por publicações inverídicas sobre a Cacau Show que circularam na internet. São ataques injustos à nossa história, aos nossos valores e, principalmente, às milhares de pessoas que constroem essa marca com integridade e amor.

Temos uma trajetória de mais de 37 anos, construída com trabalho sério, respeito, verdade e coragem.

Somos a maior rede de chocolates finos do mundo, a maior franqueadora do Brasil, com quase 5 mil lojas e mais de 22 mil pessoas em nosso ecossistema — e cada uma delas merece respeito.

É indignado e entristecedor a perturbação de alguns momentos simbólicos que são tão especiais para a nossa cultura.

A gratidão no fim de ano é uma prática espontânea, marcada por acolhimento e liberdade. A oração do “Pai Nosso”, quando feita, é voluntária e respeitosa à liberdade de crença. Promovemos um ambiente de trabalho ético, inclusivo e que valorize a diversidade.

O chamado “ritual do cacau” é uma vivência sensorial com o licor de cacau — 100%, cacau não alcoólico —, oferecida como experiência cultural e gastronômica, inclusive em nossos hotéis. Uma forma de celebrar nossa principal matéria-prima.

Nada disso fere valores — pelo contrário: reforçar o que somos. Uma empresa humana, com alma, que ouve, que caminha junto, que constrói com coragem e verdade.

Com os franqueados, temos uma relação baseada em confiança e parceria de longo prazo — mais de 50% deles estão conosco há mais de 7 anos, representados por um maduro Conselho de Franqueados.

Enfrentamos juntos o aumento de mais de 300% no preço do cacau, a instabilidade econômica e até um incêndio em nossa fábrica de Linhares.

E mesmo assim, seguimos crescendo. Investimos em logística, ampliamos a fábrica e estamos construindo um novo centro de distribuição.

Não porque é fácil. Mas porque temos um propósito que nos move.

Vivemos para, JUNTOS, tocar a vida das pessoas. E não vamos permitir que distorçam quem somos.

Nosso sucesso é fruto de paixão, trabalho e ética. Nós ouvimos as pessoas. Temos compromisso com a verdade. Seguimos trabalhando firme, sem segredo, sem mistério.

Só trabalho e chocolate, mesmo."