Realizado na ESPM, em São Paulo, o evento marcou o retorno da organização ao Brasil
Após 25 anos, o FIPP Insider voltou ao Brasil. Realizado nesta quinta-feira (5), na ESPM, em São Paulo, o evento marcou a retorno da parceria entre a Aner e a FIPP.
Para Alastair Lewis, presidente da FIPP Insider, a reconexão com o Brasil era uma prioridade. “Muita coisa tem acontecido em nossa indústria, e eu queria muito encontrar uma forma de realizar um evento aqui. A FIPP é sobre conectar a mídia global — e é isso que tentamos realizar.”

A diretora executiva da Aner, Regina Bucco, destacou que a iniciativa se alinha à missão da entidade. “Espero que seja um evento permanente. Queremos trazer as ondas de tendência para que o mercado possa surfá-las.”
Marcas editoriais além do papel
Uma das falas mais marcantes veio de Paula Mageste, CEO das Edições Globo Condé Nast, ao afirmar que as revistas se transformaram em marcas. “Nós, que nascemos no print, tivemos que virar marca em primeiro lugar. Criamos ecossistemas de conteúdo integrados a diferentes plataformas."
Ela conta que navegar entre a velocidade da transformação e o artesanato de uma marca boutique, como a Vogue, foi essencial para a sobrevivência da publicação.

Para Paula, mesmo com a queda nas tiragens, o engajamento dos leitores é mais profundo. “Hoje, quem compra revista é leal à marca. Não importa muito quem está na capa. Aquela lógica de que a Gisele vendia mais acabou.”
Ela também destacou os eventos como uma das principais ferramentas de reforço de identidade. “O Baile da Vogue é um bom exemplo. Ele gera desejo, conversa, posicionamento. E nossos eventos corporativos seguem essa lógica, inclusive no pilar educacional, com cursos em parceria com a ESPM e uma nova imersão em Paris."
O desafio de manter relevância na era da IA
Paul Hood, ex-diretor digital do The Sun, apresentou os principais impactos da inteligência artificial no publishing.
Em um cenário em que mais de US$ 250 bilhões são investidos apenas pelas quatro grandes empresas de tecnologia (Meta, Google, Amazon e Microsoft) em IA generativa, o executivo aposta que a distribuição de conteúdo estratégica será decisiva.
“Estamos saindo de um modelo massivo para microcomunidades. O futuro é atender nichos com autenticidade, personalização preditiva e relações mais profundas.”

Entre os riscos, Hood apontou o crescimento dos LLMs como o ChatGPT, que já figura entre os dez sites mais acessados do mundo e que mais cresceu nos últimos 20 anos em tráfego global.
“Essas ferramentas podem sintetizar respostas sem atribuição ou retorno de tráfego aos veículos originais. É uma ameaça real à monetização e à relevância dos publishers.”
O executivo conta que estimativas indicam perdas superiores a 2 bilhões de libras por ano (equivalente a mais de R$ 13 bilhões) com a substituição de cliques e tráfego orgânico por respostas geradas por IA com conteúdos de editoras.
Por outro lado, ele defendeu parcerias com pequenas techs e o uso de ferramentas que ajudam a rastrear, auditar e licenciar conteúdo. “Precisamos de soluções como a Gist AI, que credita os veículos e protege o valor do conteúdo.”
Gen Z e a reinvenção da notícia
Max Frost, cofundador da RocaNews, compartilhou insights sobre como a Geração Z consome informação. “Eles não odeiam notícias, odeiam o jeito como são apresentadas. Acham chatas, enviesadas e inconvenientes.”
A proposta da RocaNews é oferecer conteúdo confiável, não partidário e adaptado às redes sociais. “Hoje, o social não é só funil, é o destino. Nossa página no Instagram nos levou a criar um app, uma newsletter e um canal no YouTube. No período de alguns meses, cada um deles gera mais receita do que a rede social original.”

Outra tendência apontada pelo profissional é de que a geração Z busca precisão sem viés ao se informar. “Eles desconfiam até da escolha de palavras. Confiam mais em figuras autênticas do que em grandes redações. Para eles, o conteúdo real, feito por pessoas reais, é o diferencial frente à IA.”
Branded Content
Finalizando as apresentações do período matutino, Gustavo Masson, especialista em marketing da Stellantis, explicou como a indústria automotiva enxerga o papel do conteúdo editorial.
“Na hora de lançar um carro, é comum usarmos plataformas como o Auto Esporte para trazer credibilidade técnica. Ou desenvolvemos roteiros com criadores que contextualizam como aquele modelo entra na vida das pessoas.”

Ele destacou o formato Partnership Ads no YouTube, no qual a marca amplifica conteúdos feitos por terceiros. “A percepção do consumidor muda quando a fala vem de uma fonte confiável. É isso que buscamos: segurança e reputação.”
A estratégia, segundo Masson, também serve para lidar com heranças negativas. “Marcas como Peugeot e Jeep já superaram problemas antigos, mas o social ainda força essa conversa. Precisamos de especialistas do mercado editorial para ajudar a mudar essa narrativa.”